O grande evento de 2022 será o aniversário de 100 anos da Semana de 22, ou Semana de Arte Moderna. Se hoje acontecesse um reprise desse evento, ainda seria moderno e inovador, mesmo 100 anos depois de sua realização.
Foram alguns dias em meados de fevereiro de 1922, que um grupo de artistas se reuniu e realizou apresentações no Teatro Municipal de São Paulo. Na música, na poesia e nas artes plásticas, o fato é que todas as exibições foram tão excêntricas, que as vaias do público e da crítica foram altas. Era isto mesmo que os modernistas desejavam: fazer barulho. A invés de aplausos, queriam chocar, escandalizar, provocar. Se o objetivo foi ver muito nariz torcido na plateia, então o evento foi um sucesso.
Todas as performances foram marcadas pela quebra de paradigmas. Para citar alguns exemplos, o compositor Heitor Villa-Lobos se apresentou ao palco calçando chinelos, o que foi considerado um grande desrespeito; a artista plástica Anita Malfatti, que havia sido duramente criticada e mal compreendida por Monteiro Lobato, expôs trabalhos com uma nova estética inspirada nas vanguardas artísticas europeias; e o poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira, que desobedecia a toda tradição de tema, rimas e métricas, foi declamado por Ronald de Carvalho e recebido como uma afronta ao parnasianismo.
A intenção era adotar o tom da sátira, sem levar as coisas muito a sério; libertar-se de padrões antigos e europeus; enfim, conquistar a independência, 100 anos depois do grito de D. Pedro I às margens do Rio Ipiranga.
A Semana de 22 tem importância fundamental para a formação da identidade cultural brasileira e os desdobramentos do movimento modernista são observados até hoje em todas as esferas artísticas. Um encontro que precisava acontecer; artistas inquietos, agitados e dispostos a mudar todo cenário.
Eventos, encontros são assim. Alguns momentos que se tornam tão especiais, ao ponto de transformar tudo o que vem depois.